A cortiça e o MX-30: Encontro entre o passado e o futuro
Material de excelência, a cortiça remonta às origens da própria marca, em 1920. A qualidade intrínseca deste produto tão tipicamente português foi um factor de enorme relevância, tendo envolvido a Amorim Cork Composites, uma das divisões da também nacional Corticeira Amorim. A sua primeira aplicação integra-se no SUV MX-30, a primeira proposta da Mazda direccionada ao mercado 100 por cento eléctrico a bateria.
No que respeita a materiais, a cortiça esteve sempre entre as preferências da Mazda, nomeadamente pelo facto da marca ter nascido, há mais de 100 anos, como fabricante de produtos de cortiça. A Mazda redescobre, assim, as suas raízes, empregando-as no MX-30[1], o seu primeiro veículo totalmente eléctrico a bateria, mas não o faz apenas por uma questão nostalgia. Com efeito, este material frequentemente subestimado apresenta um surpreendente conjunto de caraterísticas que o tornam numa excelente opção para a indústria automóvel.
O que é que, normalmente, associamos à Mazda? Questionando algumas pessoas, as respostas obtidas serão bastante diferenciadas: o motor rotativo e a sua vitória em Le Mans; o MX-5, o icónico roadster da marca; a peculiaridade do prazer de condução e conforto associados à sensação Jinba Ittai, etc. No entanto, o que poucos irão, certamente, mencionar, é a cortiça. Apenas os mais informados e acérrimos entusiastas da marca sabem que a Mazda iniciou a sua atividade como produtora desse material, então sob a designação Toyo Cork Kogyo, em 1920, época em que os sobreiros eram abundantes na região de Hiroshima e a indústria de construção naval local representava uma importante fonte de procura de produtos de cortiça.
Embora a Mazda tenha, há muito, abandonado esse negócio, esse passado encontra-se, até hoje, enraizado no pensamento e coração de muitos dos seus empregados. A melhor oportunidade para homenagear esta rica e vasta tradição surgiu com o lançamento do MX-30, o primeiro modelo totalmente eléctrico da Mazda, representando um arrojado passo na direção de um futuro sustentável.
O MX-30, modelo que estreia a solução eléctrica na Mazda, representa um importante progresso para a concretização da sua abordagem multi-soluções em termos de sustentabilidade. Equipado com uma bateria de iões de lítio de 35,5 kWh de dimensões compactas, esse novo modelo não se distingue apenas por ser “zero emissões”, sendo também capaz de manter em níveis mínimos a própria pegada global de carbono do veículo, uma vez que o teor de CO2 emitido durante o seu processo de produção é significativamente menor. Mas não só, pois, para além disso, o MX-30 integra um conjunto de materiais inovadores e sustentáveis, desde couro vegetal, a fibras feitas de um material respirável, gerado a partir de garrafas PET recicladas, sem esquecer, obviamente, a cortiça.
“Aplicámos cortiça em zonas do veículo onde normalmente recorremos a borracha: na consola central e nos puxadores interiores das portas. Isto confere ao modelo um requinte visual e táctil próprio da natureza”, refere Jo Stenuit, Director de Design da Mazda Motor Europe.
Mas o apelo visual está longe de ser a única razão pela qual a cortiça emergiu como o material de referência no MX-30. Em comparação com a borracha, a cortiça é uma opção mais sustentável e altamente funcional em diversos aspectos.
No que diz respeito a materiais naturais, a cortiça é, certamente, uma das opções mais versáteis e amigas do ambiente actualmente disponíveis. Derivada da casca do sobreiro, a sua extracção não causa quaisquer danos às próprias árvores, exemplares que apresentam uma casca regenerativa, significando que, uma vez desprovida da sua casca exterior, a árvore voltará a reproduzir, por completo, essa camada protectora, sem sofrer efeitos secundários negativos.
A Mazda e a Corticeira Amorim: um novo nível de sustentabilidade
Todas estas características tornam a cortiça num excelente material de base para aplicação em automóveis. Contudo, antes de estar apta a ser corretamente aplicada no Mazda MX-30, foi necessário ultrapassar alguns processos. Como acontece com a maioria dos materiais naturais, a cortiça está disponível com diversos níveis e qualidades, razão pela qual os engenheiros da Mazda estabeleceram requisitos técnicos elevados.
“O interior de um veículo pode revelar-se um ambiente muito agressivo. Por exemplo, os raios ultravioleta, que penetram no habitáculo ao longo do tempo, podem degradar a cortiça”, explica Youichi Matsuda, Designer Chefe do MX-30. Como o modelo foi o primeiro veículo produzido em massa para a Europa integrando elementos em cortiça, não existiam, na prática, casos para comparação.
A Mazda encontrou na Amorim Cork Composites, filial de um dos maiores produtores mundiais de cortiça, um parceiro capaz de assegurar a qualidade e funcionalidade que a equipa de produto procurava. Localizado no Vale do Douro, Património Mundial da UNESCO, o fabricante não só produz cortiça de elevada qualidade, como também está empenhado num modelo de negócio sustentável ao longo de toda a sua cadeia de valor.
Aplicando os princípios de economia circular, a empresa implementou um processo de produção integrado, que permite e promove a reutilização de todos os subprodutos associados ao processamento da cortiça. Assim, 60 por cento das necessidades energéticas da empresa são satisfeitas com energia de biomassa gerada a partir do pó de cortiça, um produto secundário ao processo de produção. Sempre que possível, a cortiça é reciclada ou reutilizada noutras aplicações, aqui integrando-se a colaboração com a Mazda.
Os materiais em cortiça integrados no MX-30 são concebidos a partir de aparas de cortiça e pedaços excedentes que se acumulam durante a produção das tais rolhas para garrafas de elevada qualidade. Isto também significa que apenas essa cortiça de maior qualidade, extraída dos sobreiros com pelo menos 40 anos de vida, é encaminhada para o veículo. A cortiça é, então, granulada e formada num material contínuo, com a ajuda de diferentes agentes aglutinantes. Para alcançar as características tácteis, estéticas e de desempenho apresentadas no MX-30, esse composto de cortiça passa por um elaborado processo de refinação. Por exemplo, a utilização de um revestimento especial e de um material de base destina-se a assegurar mais durabilidade e maior resistência aos raios UV.
Em conjunto, as duas empresas conseguiram, assim, criar um compósito de cortiça totalmente adequado às elevadas exigências no interior de um habitáculo de um veículo, aproveitando, simultaneamente, as excecionais caraterísticas naturais que formam este magnífico material. E isto pode ser apenas o começo: “A cortiça ainda tem muito potencial para a indústria automóvel”, declara Sandra Höner zu Bentrup, Designer Sénior de Cores e Materiais da Mazda Research Europe. “Estamos apenas no início das possibilidades de desenvolvimento deste material”.
Quanto à continuidade do recurso à cortiça em futuros modelos da Mazda, resta aguardar por desenvolvimentos neste domínio!