Num regresso esporádico ao campeonato, João Fonseca (SilverCar EF10) dominou a seu belo prazer a segunda prova da temporada 2020 do Campeonato de Portugal de Montanha JC Group. A jogar em casa, não deu veleidades à forte concorrência que enfrentou e foi sempre o mais rápido nas subidas a contar para a classificação final.
A história desta Rampa da Serra da Estrela Covilhã merece ser contada de forma mito mais alargada do que apenas remetendo para os excelentes contornos competitivos que ostentou. Realizada debaixo de fortes restrições, impostas pelo plano de contingência da prova e em obediência estrita à diretrizes da DGS, a rampa revelou o melhor da cidadania por parte das centenas de pessoas envolvidas no evento e dos milhares de espetadores que não quiseram perder o regresso do campeonato. O comportamento do público, ao longo dos dois dias de competição, tocou as raias do irrepreensível, colaborando com o CAMI, clube organizador, que, por seu lado, esteve ao mais alto nível, erguendo uma prova exemplar.
Na entrevista relâmpago que concedeu após ter feito a descida de consagração, entre o topo da rampa e o parque fechado, debaixo de fortes e contínuos aplausos, João Fonseca não conseguiu conter a emoção. O piloto do Sporting Clube da Covilhã tinha acabado não só de voltar a vencer “em casa”, mas também de ter assinado uma exibição colossal, estando sempre uns furos acima da sua forte concorrência na luta pelo triunfo absoluto, a que juntou a vitória na Divisão A dos Protótipos.
Os 3 tempos obtidos nas subidas oficiais de prova pelo piloto do SilverCar EF10 foram todos muito abaixo daquilo que os restantes candidatos ousaram alcançar, terminando a rampa com um avanço muito significativo e, por isso mesmo, João Fonseca assumia que “estou a viver um momento de profunda emoção. Este ano tinha decidido estar parado, por motivos pessoais e profissionais, mas o chamamento para correr em casa foi demasiado forte. Nas primeiras subidas tivemos alguns percalços com o SilverCar mas depois consegui rodar forte e chegar a mais uma vitória muito saborosa na minha carreira”. O piloto, que não está inscrito no CPM JC Group para poder pontuar, não tem planos para correr mais este ano, mas não enjeita “voltar em 2021, se conseguir apoios para montar um projeto credível e competitivo. Pode ser que esta vitória agite as águas!”.
José Correia chegava à Serra da Estrela muito motivado com a vitória de Murça e a consequente liderança absoluta do campeonato. O piloto do Osella PA2000 EVO2 enfrentou problemas na bateria da “barchetta” durante a jornada de sábado, mas conseguiu recuperar no domingo, registando excelentes tempos nas duas subidas de prova do programa e reclamando o 2º lugar da geral na prova, que correspondeu à competição máxima para o campeonato, sendo agora o grande candidato aos títulos absoluto e de protótipos.
O pódio ficou fechado com António Rodrigues (BRC CM EVO 05). O piloto que está a fazer a sua primeira época a tempo inteiro na Montanha, esteve sempre forte e competitivo, sem demonstrar qualquer fragilidade por nunca ter competido na Serra da Estrela. A sua presença no pódio e o triunfo na Divisão B dos protótipos, foram a merecida recompensa para a sua exibição.
Logo atrás de si, Joaquim Rino (BRC CM EVO 05) conseguiu juntar ao 5º lugar da geral o 2º posto na Divisão B e voltou a provar que continua muito competitivo.
Ausente da jornada de sábado, devido à sua participação no Rali Vidreiro, Vítor Pascoal (Porsche 991 GT3 CUP) nãos e sentiu pressionado por ter de assinar dois tempos nas únicas duas subidas de prova que poderia realizar e cedo se percebeu que, em condições normais, assinaria mais uma vitória na sua categoria, o que viria a acontecer e de forma imperial. O piloto, que também garantiu o 5º lugar da geral, chegou ao fecho da prova com uma vantagem de 8,4 segundos sobre o seu colega de equipa Pedro Silva (Porsche 997 GT3), piloto que também participou com as mesmas limitações de Pascoal, porque também alinhou no Vidreiro. O pódio dos GT ficou completo com Pedro Marques Porsche 991 GT3 CUP).
Ricardo Gomes (Tesla P100D) continuou a evoluir a sua máquina americana e está a realizar tempos cada vez mais interessantes com o único GT elétrico a competir em Montanha, inscrito numa categoria própria, designada VEM.
Nos Turismos, destaque para as vitórias de Luís Nunes (Ford Fiesta ST R5) na categoria e na Divisão 2, com o piloto de Valpaços a coroar a sua exibição com um excelente 6º lugar à geral.
Já Joaquim Teixeira (Cupra TCR) triunfou na Divisão 4, sendo ainda 2º da Categoria e 7º da geral, realizando uma excelente prestação e num traçado menos vantajoso para o seu bólide espanhol.
Gabriela Correia está cada vez mais forte e “trata por tu” o seu Seat Leon Supercopa MK3. Desta feita e mercê de um fim-de-semana sempre em crescendo, dominou a Divisão 3, foi 3ª da Categoria e reclamou um lugar dentro do Top 10 absoluto, terminando no 10º lugar. Notável.
Igual a si próprio, Parcídio Summavielle (Renault Clio R3) saiu da Serra da Estrela com mais uma vitória na Divisão 1 e, mesmo limitado face a adversários com carros muito mais competitivos, voltou a provar todo o seu talento, terminando bem perto dos dez primeiros. Já merece aparecer com outros argumentos, leia-se, outro carro mais competitvo.
Quem também brilhou na Serra da Estrela, foi Alberto Pereira e o seu Honda Integra Type R. O edil de Mesão Frio foi sempre muito rápido e venceu com naturalidade a Categoria Legends, saltando para o comando do campeonato e mostrando ser um dos grandes candidatos ao título.
Nesta prova, foi secundado por José Carlos Magalhães (BMW M3) e por Raúl Delgado (Alfa Romeo 156 Twin Spark), 2º e 3º respetivamente e autores de prestações muito positivas e sem erros ao longo de todo o fim-de-semana.
Nos Clássicos, não existiu qualquer dúvida quanto ao triunfo. Flávio Sainhas (Ford Escort MKI) dominou de fio a pavio e continua invicto no comando da geral particular deste campeonato. Foi secundado por Carlos Fava, num VW 1303.
Quem está cada vez mais seguro e solto na condução do seu Peugeot 106 é o jovem vimaranense Francisco Milheiro. Foi rei e senhor da taça reservada aos 1300cc, rodando muito acima do ritmo de Rui Gama (Peugeot 106), 2ºclassificado e de Eva Laranjeira, autora de uma corrida muito interessante, aos comandos do seu Fiat Uno 45S, que lhe granjeou uma ida ao pódio, mercê do 3º lugar alcançado. Na competição dos clássicos com cilindrada igual, José Pedro Figueiredo (Datsun 1200) venceu com toda a naturalidade, na frente de Domingos Fernandes (Autobianchi A122 Abarth).
Uma palavra para o gesto da organização e de todos os presentes no início da cerimónia de pódio, ao respeitar um minuto de silêncio em memória da malograda co-piloto Laura Salvo, vítima de um acidente durante o Rali Vidreiro.
Os sete meses de “fome” competitiva dão agora lugar a uma pequena “fartura”, pois o Campeonato de Portugal de Montanha JC Group vai ter a sua terceira prova da época já no próximo fim-de-semana, com o Demoporto a assumir as rédeas da edição 2020 da Rampa da Penha Paisagem Protegida.