Flávio Sainhas: o tricampeão da Covilhã que fez da Montanha o seu território

O Campeonato de Portugal de Montanha JC Group 2025 voltou a consagrar um nome incontornável entre os Clássicos: Flávio Sainhas, piloto covilhanense que conquistou o título de Tricampeão Nacional de Clássicos de Montanha, ao volante do seu inconfundível Ford Escort MK1 RS2000.
Uma época marcada por condições adversas, desafios mecânicos e momentos de pura emoção, culminou numa consagração mais do que merecida.
Rampa a rampa, a força da consistência
A temporada começou em Murça, um traçado técnico e exigente, com tempo instável e forte concorrência. “Gosto muito desta rampa. Apesar das dificuldades meteorológicas, conseguimos um 2.º lugar no pódio, que valeu como 1.º em pontos para o campeonato.” Seguiu-se a Penha, novamente com chuva e piso difícil. “Foi mais uma prova complicada, mas optámos por não arriscar. Fechámos em 2.º lugar, sem contratempos.”

Na Falperra, o desafio foi outro. “Todos os anos prometo não voltar…”, confessa entre risos. “As falhas organizativas e a diferença de tratamento entre pilotos tornam esta prova desgastante. Ainda assim, enfrentámos um tempo instável e conseguimos um 4.º lugar — 3.º em pontos.”
A Serra da Estrela, “a rampa de casa”, foi um dos pontos altos do ano. “O que sinto em cada subida é indescritível. Ouvir o público, ver rostos conhecidos, sentir aquele apoio é algo que não tem preço.” O momento teve ainda mais significado por marcar a estreia do primo e preparador Miguel Sainhas como piloto. “Partilhar o pódio com ele logo na primeira subida foi um orgulho enorme.” Apesar da emoção, a falta de pneus condicionou o resultado: 2.º lugar.
Em Santa Marta, uma das provas preferidas da equipa, os problemas mecânicos voltaram a aparecer. “Fizemos a prova toda com uma roda travada. Mesmo assim, terminámos em 3.º, 2.º em pontos para o campeonato. A organização foi, como sempre, exemplar.” O Caramulo trouxe o renascimento competitivo. “Fomos determinados a ganhar. Tínhamos o carro no ponto e quatro pneus novos. Gosto muito do traçado e conseguimos o 1.º lugar, sem contratempos.”

Finalmente, em Boticas, tudo se decidiu. “Precisávamos de um grande resultado para sonhar com o título. A prova correu na perfeição e, sem esperarmos, conseguimos os pontos necessários para garantir o tricampeonato logo ali.” A Arrábida foi pura celebração: “O título já estava garantido, mas quisemos festejar com a ‘família da montanha’. Foi uma prova para desfrutar e terminámos em 2.º, com o sentimento de dever cumprido.”
Um título com significado especial
“Este título de Tricampeão Nacional teve um sabor muito especial”, admite Flávio Sainhas. “Nem sempre as coisas correram como esperava. As corridas são feitas de altos e baixos, e esta época foi um exemplo disso. Mas chegar ao fim do campeonato e vencer é a prova de que, com esforço, resiliência e fair play, tudo é possível.”
Mais do que números, este título representa a consolidação de uma carreira feita de trabalho, humildade e paixão. “As vitórias passam, mas o respeito pelos adversários e a amizade que encontramos na montanha ficam para sempre.”




Para o próximo ano, o futuro está em aberto. “Os planos ainda não estão definidos. Quero mudar de carro e de categoria, sinto que já fiz tudo o que podia com este Escort. Se não surgir a oportunidade certa, faremos apenas as provas que mais gostamos e logo veremos o que o futuro nos reserva.”
O tricampeão não esquece quem o acompanha nesta jornada: “Sou muito grato a todos os meus apoiantes, sponsors e à equipa pelo apoio incondicional. Sem eles, nada disto seria possível. A A. Sainhas Racing Team e os parceiros — A. Sainhas – Comércio e Reparações Auto, Câmara Municipal da Covilhã, M. Xavier da Costa Lda, Tabacaria Express, Sildicons, Padarias Dias, Creat Business by JF Peças, Tacofrota Lda, Junta de Freguesia de Orjais, Graph&Co Design de Comunicação, FUCHS Lubrificantes Portugal, Oficina Manuel Gonçalves Sainhas, Auto Dionísio e Correntes de Luz, são parte essencial deste sucesso. Dedico-lhes todas as vitórias e títulos. Este tricampeonato é tanto deles como meu.”
Uma carreira forjada na montanha
A paixão pelas corridas nasceu cedo. “Comecei aos 18 anos, em autocross, com um Ford Escort RS1600 que eu próprio preparei, o eterno ‘laranjinha’.” Em 2014, herdou o Ford Escort MK1 RS2000 com que o pai foi campeão em 2008. “A partir daí, passei a competir regularmente no Campeonato de Portugal de Clássicos de Montanha.”

Em 2017, disputou pela primeira vez o campeonato completo, conquistando o título de Vice-Campeão Nacional, feito que repetiu em 2018. Depois de várias evoluções no carro, chegou o momento alto: Campeão Nacional em 2023, bicampeão em 2024 e agora tricampeão em 2025.
Flávio Sainhas é hoje um dos nomes de referência dos Clássicos de Montanha. Da Covilhã para o topo do país, fez da resiliência e da consistência a sua marca pessoal. Três títulos depois, continua a acelerar com a mesma paixão de sempre, porque, para ele, a montanha não é apenas um campeonato: é a sua segunda casa.



