Velocidade

Daniel Teixeira: transformar uma época parcial num duplo título

Daniel Teixeira voltou a demonstrar, na temporada de 2025, porque é amplamente reconhecido como um dos melhores e mais consistentes pilotos portugueses de velocidade. Aos comandos do Hyundai Elantra TCR do JT59 Racing Team, o piloto de Murça conseguiu um feito de enorme relevo competitivo: transformar uma participação parcial no calendário numa época de sucesso absoluto, conquistando dois títulos: Campeão Nacional de Velocidade e Campeão Ibérico, tanto à geral dos Turismos como na divisão TCR.

Num campeonato que atravessa um dos seus períodos mais fortes, com grelhas numerosas, elevado profissionalismo e um nível técnico raramente visto em Portugal, Daniel Teixeira destacou-se pela capacidade de leitura estratégica, pela consistência em pista e pela forma como conseguiu maximizar cada fim de semana de competição.

A abordagem à temporada de 2025 foi tudo menos improvisada. A decisão de disputar apenas quatro rondas do campeonato — todas elas a contar para o Campeonato de Portugal de Velocidade e três também para o Campeonato Ibérico — foi tomada de forma consciente e estratégica, tendo em conta os recursos disponíveis e os objetivos realistas.

“Desde o início sabíamos que não faria sentido tentar abraçar tudo. Ao não estarmos presentes em Jarama e Valência, ficávamos automaticamente fora da luta pelo campeonato espanhol, porque só iríamos disputar metade das corridas. A partir daí, a decisão foi clara: concentrar todos os esforços no Campeonato Nacional e no Campeonato Ibérico, tentar ser competitivos em todas as provas em que estivéssemos presentes e não dispersar recursos. Felizmente, essa estratégia acabou por resultar.”

A época arrancou no Autódromo Internacional do Algarve, um circuito que Daniel considera particularmente exigente para o seu conjunto técnico, pela importância que a potência assume no traçado. A ausência de testes prévios, por limitações orçamentais, e a chuva inesperada vieram acrescentar dificuldade ao desafio.

“Portimão é, provavelmente, a pista menos favorável para nós em todo o campeonato. É um circuito onde a potência pesa muito e onde é mais difícil compensar apenas com condução. Ainda por cima, não tínhamos conseguido fazer testes antes da época e a chuva acabou por baralhar completamente as contas. Mesmo assim, conseguimos ser muito competitivos desde o início.”

O desempenho nas qualificações foi revelador, com um primeiro e um segundo lugares que garantiram a primeira linha da grelha para ambas as corridas. Daniel aproveitou ainda para sublinhar a importância da separação das grelhas entre GT e Turismos: “Com mais de 40 carros inscritos, a separação das grelhas foi uma decisão muito positiva. Melhorou o tempo útil em pista, aumentou a segurança e tornou o espetáculo mais limpo e mais interessante para quem assiste.”

A primeira corrida ficou marcada pelo primeiro contratempo da época: “Tivemos um problema técnico na volta de formação que me obrigou a ir às boxes e perdi uma volta. Apesar de conseguir regressar à pista, fazer a volta mais rápida à geral e recuperar muitas posições, tornou-se impossível lutar pela vitória.”

Na segunda corrida, disputada à chuva, tudo mudou: “Foi uma corrida muito de gestão, de cabeça fria. Não era o dia para forçar sem necessidade. Controlámos o ritmo, evitámos erros e conseguimos vencer à geral. Saímos de Portimão com uma vitória quando, honestamente, tínhamos andamento para ganhar as duas corridas.”

Vila Real: competir num palco de dimensão mundial

A segunda ronda levou o campeonato até Vila Real, o evento mais emblemático do calendário. Para Daniel Teixeira, correr em casa tem sempre um significado especial, tanto pela ligação pessoal como pela dimensão única do evento; “Vila Real é muito mais do que uma corrida. É um dos maiores eventos desportivos do país, com uma moldura humana impressionante. Para mim, é correr em casa e tem sempre um peso emocional diferente.”

Integrado no programa do TCR World Tour, o fim de semana foi encarado sem pressão de resultados: “Sabíamos perfeitamente que não tínhamos condições para lutar com equipas e pilotos de fábrica. Entrámos em pista com o objetivo de ser consistentes, fiáveis e competitivos dentro das nossas possibilidades.” Dois furos – um na qualificação e outro na segunda corrida – condicionaram o fim de semana. Na qualificação, o furo na última tentativa ditou o 13.º lugar, posição ingrata num circuito onde ultrapassar é extremamente difícil.

A primeira corrida, apesar de uma penalização posteriormente reconhecida como erro da organização, acabou por ser um dos momentos mais intensos do fim de semana: “Foi uma corrida muito dura, com uma luta até à última volta com o Honda do Inácio Montenegro. Terminei como o segundo Hyundai mais rápido em pista, num contexto com três carros oficiais da marca, o que nos deixou bastante satisfeitos.”

A terceira ronda, em Jerez de la Frontera, voltou a testar a capacidade de superação da equipa. Pelo terceiro ano consecutivo, problemas mecânicos comprometeram o início do fim de semana: “Na qualificação, depois de fazer o melhor primeiro setor à geral, tivemos um problema nos travões que me levou a sair de pista. Isso obrigou-nos a arrancar do último lugar, o que parecia comprometer tudo.”

A primeira corrida, com zonas ainda molhadas e pneus de seco, foi uma demonstração de talento e leitura de corrida: “Fiz uma primeira volta muito forte, recuperei 14 posições logo ali e, a partir daí, consegui impor um ritmo consistente até à vitória. Foi uma corrida muito especial, daquelas que ficam na memória.”

Na segunda corrida, quando seguia em segundo lugar à geral, um novo problema mecânico ditou a desistência: “Foi frustrante, porque tínhamos claramente condições para lutar pela vitória novamente, mas faz parte das corridas.”

Estoril: fechar a época de forma irrepreensível

A derradeira prova da época, no Estoril, foi o culminar perfeito de todo o trabalho desenvolvido ao longo do ano. Daniel conquistou a pole-position para ambas as corridas, venceu as duas à geral e assinou as melhores voltas.

“Apesar dos resultados, não foi um fim de semana fácil. Na primeira corrida, com pista fria e húmida, tive muitas dificuldades em colocar temperatura nos pneus traseiros. Optei por uma abordagem mais calculista, deixei-me cair para terceiro e esperei pelo momento certo. Na segunda corrida perdi a liderança na primeira curva, fiquei atrás do Rui Mirita e tivemos uma luta intensa até à paragem nas boxes. Depois disso consegui assumir a liderança e construir uma vantagem confortável até ao final.” Com esses resultados, ficaram selados os títulos nacional e ibérico.

No balanço final, Daniel Teixeira destaca a evolução do campeonato e o nível atual da competição: “Acredito sinceramente que temos hoje o melhor Campeonato de Portugal de Velocidade de sempre. Não apenas pelo número de carros, mas sobretudo pela qualidade dos pilotos, das equipas e do espetáculo. A separação das grelhas foi um passo muito importante e fico satisfeito por saber que vai continuar em 2026.”

Quanto ao futuro, mantém os pés bem assentes no chão: “Com os meios que tínhamos, foi muito difícil fazer melhor. Fomos sempre competitivos e isso motiva-me a tentar manter ou até elevar o nível na próxima época, embora 2026 ainda esteja em aberto.”

Daniel termina com uma mensagem clara de gratidão. “Nenhuma vitória se constrói sozinho. Estes títulos são o reflexo do trabalho de uma equipa extraordinária e do apoio fundamental dos nossos parceiros e patrocinadores. O sucesso é de todos nós.”

Nesse agradecimento, Daniel faz questão de destacar o papel central do pai, Joaquim Teixeira, figura incontornável no seu percurso desportivo e humano: “Um agradecimento muito especial ao meu pai, Joaquim Teixeira. Para além de tudo aquilo que representa enquanto pai, foi também um pilar essencial nesta época, sempre presente, sempre a acreditar. Sem ele, este projeto simplesmente não existia. Quero agradecer igualmente à minha irmã Sónia Teixeira, ao Jorge Mourão, ao Filipe Borges, ao Tiago Silva e à Joana Cepeda. Cada um teve um papel fundamental, seja no planeamento, na execução, na logística ou no apoio constante. Foi um verdadeiro trabalho de equipa, com profissionalismo, dedicação e um enorme espírito de entreajuda.”

Daniel Teixeira faz ainda questão de sublinhar a importância decisiva dos parceiros e patrocinadores: “Nada disto seria possível sem o apoio dos nossos patrocinadores, que acreditaram no projeto e estiveram connosco ao longo de toda a época. A todos eles, o meu mais sincero obrigado: Bompiso S.A., Município de Murça, ASF Construction, Município de Boticas, Villae3000, Cordialpanther, Jacinto Lda., Intermarché Valpaços e Alijó, Potauco, Iluadviser S.A., Publiserv e Officials.”

Em 2025, Daniel Teixeira não conquistou apenas títulos. Reafirmou-se como uma referência da velocidade ibérica, capaz de transformar limitações em resultados máximos através de talento, inteligência e uma abordagem exemplar à competição.

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