Filipe Macedo: o piloto que deixou a velocidade para descobrir o espírito da montanha

Aos comandos do seu Citroën Saxo Cup, o bracarense Filipe Macedo encerrou a temporada de 2025 do Campeonato de Portugal Legends de Montanha JC Group com um notável 3.º lugar absoluto, a escasso meio ponto do vice-campeonato. Rápido, consistente e determinado, o piloto da By Dias & Paulo Duarte Racing Team teve em Boticas o ponto mais alto da época, conquistando a sua primeira vitória e batendo o até então invicto campeão nacional.
“Podemos dizer que foi o carro que fez o piloto”, admite Filipe Macedo com humor e sinceridade. O Citroën Saxo Cup que hoje o leva aos pódio nasceu sem grandes ambições: “Comprei-o em plena pandemia, apenas para fazer alguns track days. Mas a falta de dopamina que todos sentimos nesses tempos levou-me a ir fazendo Upgrades… e o carro começou a exigir algo mais sério.”

A estreia aconteceu na Rampa da Falperra, com uma performance positiva que rapidamente acendeu o entusiasmo. “Fomos consistentes e percebi logo que podia ir mais longe.” Seguiu-se Santa Marta, onde surgiram as primeiras dificuldades. “Tive várias avarias e até um acidente. Foi aí que percebi que havia muita vida fora da Falperra.”
Com o carro reparado, Filipe ainda experimentou a velocidade em circuito. “Em quatro corridas fiz dois terceiros e um segundo lugar. Foi fatal — fiquei com o vício”, brinca.
O regresso ao espírito da montanha
Em 2025, decidiu trocar definitivamente a pista pela montanha. “Queria voltar ao ambiente de entreajuda e simpatia que sempre admirei.” A Rampa de Murça marcou o arranque da época. “Chegámos com muito tempo sem andar no carro, mas mesmo assim conseguimos um sólido 3.º lugar, num fim de semana com condições meteorológicas muito complicadas.”
A Penha, por outro lado, trouxe um revés. “Andámos bem, mas cometi um erro crasso — um valente prego, como se costuma dizer e deitou tudo a perder. Pensei até em desistir.” Mas a paixão falou mais alto. “A próxima prova era em casa, a Falperra. Arranjámos o motor, montámos uma caixa nova… e foi precisamente a caixa nova que cedeu. Tive de abandonar.”
Na Serra da Estrela, Filipe voltou a sentir-se em sintonia com o carro e conquistou um excelente 2.º lugar. Seguiu-se o regresso a Santa Marta, onde tinha batido no ano anterior. “Voltámos determinados a resolver os problemas e mostrar que podíamos mais. Estivemos muito competentes e percebi que, finalmente, estava a encontrar o carro e a mim próprio. Ficámos segundos, muito próximos do primeiro. A motivação disparou.”




O Caramulo tornou-se, nas suas palavras, “a rampa do acreditar”: “Acreditei até ao fim e consegui o melhor tempo. Foi ali que percebi que o objetivo estava ao nosso alcance.” E a confirmação chegou em Boticas, com a tão desejada vitória: “O carro esteve impecável e consegui finalmente vencer. Foi um momento muito especial para mim e para toda a equipa By Dias & Paulo Duarte, que foram incansáveis com o carro e pacientes com o piloto.”
Mesmo com menos uma prova disputada do que os seus adversários diretos, Filipe decidiu alinhar na Rampa da Arrábida para discutir o vice-campeonato: “Foi uma prova difícil, a que senti menos adaptação. O traçado técnico e o baixo nível de aderência não favoreciam a caixa de circuito. No sábado estivemos consistentes, mas no domingo uma travagem demasiado ambiciosa custou-nos caro.”
O piloto reconhece o mérito dos rivais: “O vice-campeonato foi bem entregue ao Telmo, que foi muito sólido e consistente. E o António Barros é um campeão indiscutível.”
Um balanço de crescimento e paixão
“No global, adorei esta primeira experiência a fazer um campeonato. Nunca o tinha feito, em nenhuma modalidade. Foi uma época de grande aprendizagem e de enorme satisfação”, afirma.
Para 2026, Filipe Macedo quer continuar a evoluir. “O Saxo vai receber uma caixa adaptada à montanha, e devo deixar de vez a velocidade. Talvez ainda faça uma prova na Divisão SC-C com o Honda Civic que era do pedro J. Neves, assim que esteja preparado para ser competitivo.”
Antes de terminar, o piloto deixa uma mensagem de gratidão: “Quero agradecer a todos os que tornaram este campeonato possível, à Federação, aos clubes organizadores, aos patrocinadores e, claro, a todos os bravos da montanha. Foi um prazer partilhar a estrada convosco.”
Filipe Macedo encerra a sua primeira temporada completa na montanha com o brilho de quem descobriu o verdadeiro prazer de competir: a comunhão entre o piloto, a máquina e a montanha. De Braga para os pódios nacionais, o homem que começou por acaso nos track days provou que, afinal, às vezes é mesmo o carro que faz o piloto.
 




