Depois de um duro “caminho das pedras” Daniela Lopes está de volta!

Foi longo e árduo o caminho trilhado pela piloto da Beira Baixa até voltar a sentar-se num carro de competição, após o violento acidente que protagonizou em 2022. Juntamente com Soraia Silva, voltou às lides em Castelo Branco e o Constálica Rallye Vouzela E Viseu, que se disputa no próximo fim-de-semana, é o desafio que se segue para Daniela Lopes, desta feita a ser navegada por Sofia Mouta.

6 de julho de 2022. 2ª edição do Rally de Resende Douro Verde. Na 5ª classificativa da prova organizada pelo Targa Clube, Daniela Lopes e Soraia Silva sofreram uma forte saída de estrada, que deixou muito maltratado o Citroen Saxo e forçou ao ao transporte da dupla feminina que discutia taco-a-taco os lugares cimeiros da Divisão II do Desafio Kumho Portugal para uma unidade hospitalar.
Para alívio de todos, cedo se percebeu que estavam fora de perigo, mas também logo ficou claro de que teriam pela frente uma longa e dura recuperação.
“A recuperação física foi mais demorada do que o previsto. Foram 3 a 4 meses longos e exigentes, não só a nível físico, mas provocando também um desgaste psicológico também dificultou pois sentia-me bastante limitada”, lembra Daniela Lopes. De referir que no caso de Soraia Silva, também foram vários os meses de fisioterapia até ficar bem.
Por momentos, Daniela Lopes quase que ‘atirou a toalha ao chão’ e chegou “algumas vezes a questionar-me se voltar a correr esse seria o caminho mais correto, já que o carro ficou irrecuperável e não tinha alternativas para adquirir um novo. No entanto, a vontade de regressar superava tudo e esse foi o foco. Com a iniciativa do meu grande amigo Pedro Silva, conseguimos reunir apoios para comprar um carro e surgiu uma luz ao fundo do túnel!”.

Para a piloto beirã “A vontade de todos aqueles que nos apoiam e que nos queriam de volta impôs-se e daí até à decisão de qual seria a próxima aposta, foi sempre a fundo. Necessitávamos de um carro semelhante ao anterior pois tínhamos muito material suplente que poderia ser uma mais-valia. Surgiu o Peugeot 206, que assume algumas semelhanças e é um carro que mantém fiabilidade e potência. Conseguimos iniciar a construção do carro e no prazo de 9 meses, dois enormes senhores, o meu Pai e o amigo Artur impuseram a sua ambição, a sua resiliência e a sua vontade. É importante referir que foi um carro construído completamente do zero, apenas tinha roll bar. Foram muitas horas, muitos dias de trabalho e dedicação!”
Daniela Lopes reforça a sua gratidão, afirmando que “todos, sem qualquer exceção foram incríveis. Pai, Artur, João Rafael, família e apoiantes, pois demonstraram-nos que quando realmente queremos conseguimos. Estou-lhes eternamente grata, bem como aos nossos parceiros e patrocinadores que nos apoiaram e que nos incentivaram a retomar o mais breve possível”.
E o regresso aconteceu “em casa”. Daniela Lopes e Soraia Silva assumiram o habitáculo do Peugeot 206 no Rali de Castelo Branco e Vila Velha de Rodão. Para trás ficava a intenção de ter feito o Campeonato Start Centro de Ralis na totalidade, “devido ao atraso na construção do carro. Quisemos fazer tudo bem e reerguer o projeto com cuidado e determinação. Assim, assumi o regresso na prova da minha cidade, junto dos meus e de todos aqueles que me viram crescer. Efetivamente foi a melhor decisão!”

A melhor decisão seria coroada com uma exibição muito sólida, premiada com uma presença no pódio da Divisão II do Desafio Kumho Portugal e o troféu da melhor equipa feminina em priva.
“Foi uma prova em crescendo. Não entrámos da forma pretendida, mas estava consciente que não ia ser uma exibição estrondosa. Estava decidido que o resultado não seria o objetivo. O importante ali era rodar, fazer quilómetros, conhecer o carro e ganhar ritmo. Em resumo, foi um regresso bastante positivo. O Peugeot esteve sempre irrepreensível e o entendimento entre as 3 partes esteve garantido. Dignificámos os nossos parceiros de 2023 com um pódio da Kumho e a melhor Equipa Feminina. Quero realçar o apoio recebido durante a prova, não só pelas gentes albicastrenses mas por todos os que estiveram presentes e também aqueles que nos acompanharam à distância”.

Depois, foi tempo de Daniela Lopes ir à descoberta de um desafio bem diferente, tornando-se a primeira piloto feminina a alinhar no Guarda Racing Days.
“O Guarda Racing Days surge em boa hora, num desafio lançado pelo Acácio Arinto, da Kumho Motorsport Portugal e pelo Clube Escape Livre, na pessoa do Luís Celínio. Fui completamente à descoberta, pois apesar de saber da existência das edições anteriores, ainda não tinha acompanhado de perto. O facto de ser a primeira mulher a participar nesta prova, deixou-me bastante motivada e orgulhosa. Foram 2 dias muito completos e interessantes, já que é um evento em que não só se sente a adrenalina, como a partilhamos (através dos co-drives) e ainda sentimos bem de perto as emoções do público. Um fim de semana notavelmente enriquecedor”, num evento em que a jovem albicastrense partilhou o carro com Hermínio Loureiro, antigo Secretário de Estado da Juventude e Desporto.

“Foi muito gratificante com a partilha do carro com Hermínio Loureiro. Uma figura pública que nos honrou com a sua participação e que tão gentil e cuidadosamente alinhou connosco no nosso bólide! Considerei muito interessante a forma natural com que se adaptou ao carro e automaticamente o registo de bons tempos. Sobretudo, é de dignificar toda a sua postura, dentro e fora do carro”.
Agora que Daniela tomou de novo o gosto ao sabor da competição, aponta já aos próximos desafios, com a piloto da Beira Baixa a confirmar que pretendem “fazer as restantes provas do Campeonato Start Centro e provavelmente alguma prova extra. O objetivo é voltar a ganhar ritmo, posição e quando possível, fazer demonstrar evolução na nossa competitividade. A curto-médio prazo pretendo estrear-me em outras vertentes, mas ainda está tudo muito incerto, e o importante é viver intensamente este nosso regresso”.
E que bem que sabe ter de volta aos ralis nacionais esta fantástica guerreira beirã!



